Os hungareses
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Em setembro de 2012, Suzana Montoro surpreendeu o meio literário ao conquistar uma das láureas mais cobiçadas do país: o Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria estreante. Autora de livros infantojuvenis e psicóloga de ofício, a paulistana Suzana Montoro arrebatou o júri com Os hungareses, romance que retrata, de forma original e delicada, a saga de imigrantes húngaros que se estabeleceram no Brasil depois da Primeira Guerra Mundial.
A obra conta a história de Rozália, “uma mulher magra, muito magra, de aparência frágil”, natural de um vilarejo incrustado nos Bálcãs, na bacia do Danúbio. Um dia, “com a mesma naturalidade com que se acorda todas as manhãs”, o povoado virou iugoslavo, dando início à imigração do povo húngaro para outras partes do mundo. Rozália e sua família, como outros tantos hungareses, veio para São Paulo, tempos depois.
“No primeiro dia iugoslavo da aldeia, ao chegar à escola levei um tapa na mão quando disse o costumeiro bom-dia, jó napot. Em húngaro não, agora temos que falar em servo-croata, a professora sussurrou em meu ouvido. Olhei atônita, o que eu podia dizer se não sabia falar coisa alguma na língua sérvia?”, nos descreve Rozália. A violência latente da transformação geopolítica do pós-guerra, ao alijar costumes e culturas inteiras, paira sobre a trama de Os hungareses. Seus personagens compartilham o desejo de reencontrar o que lhes é familiar e a angústia de saber que, nunca – e nem mesmo na memória – poderão reconstituir integralmente o mundo como o conheciam.
Nada aqui, porém, é desenhado sob as referências da história, da guerra ou da política. O grande mérito do romance de Suzana Montoro é reconstituir o microcosmo ao redor da vida de uma mulher, sempre sob o prisma de sua intimidade. Uma trajetória que, no caso de Rozália, revela-se atribulada: a morte precoce da mãe, o magnetismo pela tia excêntrica, amores proibidos, uma fuga, a culpa pelo abandono. Sentimentos e situações universais, que ganham força ao serem narrados com o misto de singeleza e vigor criativo que marcam a escrita de Suzana.
A narradora de Os hungareses se identifica, logo nas primeiras linhas do romance, como a filha caçula de Rozália – aquela que esteve atenta ao “fio dos relatos”. Por isso, nas páginas seguintes, a narrativa é entremeada de duas vozes. Ora é a narradora-filha que conta, em terceira pessoa, a saga de sua mãe; ora é a própria Rozália quem assume, com intervenções curtas, a descrição de sua história. A diferença de dicções e de poéticas, neste entremear de narradores, cria uma delicada tensão, abrindo caminho para uma trama instigante em seus muitos prismas.
Na época da premiação de Os hungareses, Suzana contou aos jornalistas que a ideia do livro surgiu a partir dos relatos de sua sócia no consultório de psicologia. Filha de húngaros, esta teria lhe revelado a trajetória surpreendente de sua mãe – que acabou servindo de inspiração para Rozália. Fascinada pela história da amiga, a escritora passou os 15 anos seguintes recolhendo depoimentos de uma comunidade húngara do interior de São Paulo.