O portal de Santa Maria Vitória Batalha e a arte europeia do seu tempo / le portail de Santa Maria da Vitoria etc.
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Rupture de stock
O portal principal do mosteiro dominicano da Batalha constituiu, durante muito tempo, um enigma no panorama monumental português do fim da Idade Média. Nenhum antecedente, nenhum exemplo anterior se diria ter preparado um conjunto estrutural de uma tal novidade, tanto iconográfica como estilística. Os historiadores de arte portugueses confrontaram-se, desde o fim do século XVIII, com o carácter exógeno desta ruptura no desenvolvimento artístico do reino lusitano, sem terem conseguido atribuir-lhe uma fonte segura. Porém, um olhar atento e uma análise rigorosa da estatuária deste portal permitem propor novas hipóteses quanto à cronologia dos trabalhos, a natureza do programa iconográfico ou a proveniência das oficinas do estaleiro.
A chegada do misterioso Mestre Huguet, sucessor do mestre de obra Afonso Domingues, é marcada por uma renovação profunda no que toca os intervenientes nestes trabalhos e, consequentemente, as formas e técnicas utilizadas. São as esculturas do portal de Castelló d’Empúries na Catalunha, realizadas, entre 1406 e 1410, sob a direcção do picardo Pere de Santjoan (Pedro de S. João), que, em primeiro lugar, se devem comparar com a estatuária batalhense. Aliás, o sistema de cobertura absolutamente específico da sala do capítulo da Batalha toma directamente como modelo as «bovedas estrelladas» catalãs, cuja génese e desenvolvimento na Europa se podem seguir, entre meados do século XIV e meados do século seguinte, de Perpinhão até Nápoles. Por detrás da ascendência catalã, é, no entanto, perceptível o peso de uma formação mais setentrional dos escultores de Santa Maria da Vitória, que parecem ter conhecido os trabalhos da torre sul da catedral de Ruão e, sobretudo, as realizações de André Beauneveu para a Santa-Capela de Burgos ou para o castelo de Mehun-sur-Yèvre.
O percurso assim reconstituído destas oficinas de escultores, de formação − se não de origem − normanda ou picarda, que terão estado em contacto com os trabalhos franceses mais ilustres do fim do século XIV e, depois, continuado activos na Catalunha e no Levante peninsular, na primeira década do século seguinte, antes de trabalharem, no segundo quartel do século XV, no portal da Batalha, permite tomar consciência da amplitude e da riqueza dos intercâmbios artísticos na Europa do final da Idade Média.
Foi à reconstituição desse percurso que Jean-Marie Guillouët se dedicou de forma aturada, num estudo pioneiro que estabelece indubitavelmente um novo patamar, e alto, no conhecimento da iconografia do Mosteiro da Batalha.