Nassau
26,50€
Rupture de stock
João Maurício de Nassau-Siegen foi um governante, no Brasil do século XVII, de qualidades excepcionais. Nobre de origem alemã, teve formação humanista da melhor qualidade. Na guerra, era um militar temperado, e conhecia a fundo arquitetura, história e artes plásticas. Nomeado pela Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa de comércio semi-estatal, Nassau desembarca no Recife, em 1637, na condição de governador, capitão e almirante-geral do Brasil holandês.
A experiência nordestina de Nassau, que se estenderá por sete anos, é o fulcro do perfil de Evaldo Cabral de Mello. Trata-se de uma experiência decisiva para uma mitologia virtual que ainda hoje reverbera: em contraposição à colonização lusitana, católica, estatal e burocrática, a administração ilustrada, racional e privatista de Nassau representaria a possibilidade de outro destino nacional - o de feições weberianas, bafejado pela ética protestante e pelo espírito do capitalismo. É em torno dessa questão que se desenvolve o livro do historiador pernambucano.
Mestre na arte da escrita concisa e de uma história narrativa, na tessitura de dados locais e miúdos com as grandes linhas das disputas comerciais e militares européias, Evaldo Cabral de Mello avalia criticamente a empresa nassoviana no Nordeste. Ele relativiza, e torna mais complexos, os mitos que envolvem a ocupação holandesa. Mostra, por exemplo, que de fato Nassau tinha um grande talento militar. Em seguida comprova que, ao não conseguir se apoderar de Salvador (por insuficiência de tropas), o governador praticamente selou a sorte dos Países Baixos no Brasil. Nota, também, que os grandes feitos militares de Nassau se deram em batalhas navais, não comandadas diretamente por ele.
Evaldo Cabral de Mello vai então ao nó da questão: a grande conquista estratégica de Nassau se deu do outro lado do Atlântico, em Angola. Ele conquistou a colônia africana porque a economia açucareira do Nordeste estava erigida sobre base escravocrata, e não sobre a migração de pequenos proprietários europeus, como rezaria a cartilha do capitalismo de feição protestante. No seu primeiro relatório à Companhia das Índias, Nassau adverte que é preciso capital "para comprar alguns negros, sem os quais nada de proveitoso se pode fazer no Brasil".