As mil e uma vidas de um azulejo As cores vivas das ilustrações de Tosca dão o primeiro trunfo lançado à atenção do leitor. Digo leitor, logo à partida, porque, mesmo que Tosca tenha definido a criança como o seu público-alvo, não consegue fugir à curiosidade do adulto ao criar uma capa que já lhe esta na memória, faz parte do seu imaginário e se agarra à sua concepção visual de um Portugal revestido desde há séculos por painéis de azulejo. O título não trai a ideia e cada página que se vira confirma-a. O simples quadrado de cerâmica que aproxima de si esse leitor transforma-se rapidamente num contador de histórias fabuloso. E aí, sim, o mundo fantástico dos elefantes, gatos, borboletas, macacos, dragões rinocerontes, e sereias abre-se à criança coma força do traço e com a magia do texto – um azulejo que a cada momento veste a pele dos mais variados bichos (o livro apresenta um bestiário de 20 animais) e que atravessa o planeta em aventuras misteriosas, tão longínquas no tempo como no espaço, mas todas elas são reais. Lá esta a rota das especiarias, o Oriente dos mercadores e navegadores, o mar, a terra, os palácios e as ruas de cidades tão diferentes. Escondido num bolso de um casaco qualquer ou dentro de uma mala maior, é o azulejo pequenino que descreve os universos por onde vai passando e nos quais deixa a sua imagem, permitindo também que ela se ajuste a outros usos e costumes, tradições e historias. De regresso a casa, quer fazer uma festa. A entrada é livre e faz-se pela porta de trás do livro. Um volume de cartão pronto a transformar-se numa casa portuguesa decorada com azulejos recortáveis, três jogos de tabuleiro (Jogo do Dragão, Jogo da Gloria e Jogo das Sete Famílias), muitas peças de dominó e mil e uma adivinhas prometem animar os convivas, que ainda terão direito a brincar com um mapa do mundo do tempo dos Descobrimentos. Um conjunto de elementos lúdicos que transformam o livro simultaneamente num objecto. Um brinquedo de múltiplas funções capazes de tornar mais efectiva a sua mensagem. A esta viagem de O Pequeno Azulejo não é alheia a capacidade criativa da autora. Artista francesa, com um trabalho desenvolvido em torno da pesquisa arquitectónica e escultural aplicada ao cartão, Tosca alia pedagogia (é professora em varias escolas de arte) a imaginação ficcional e plástica, fruto de um trabalho de mais de uma década na redacção de jornais e revistas. A sua prática enquanto desenhadora nas indústrias têxtil e de cerâmica traduz-se ainda, aqui, na concepção física do livro-jogo. A autora tem patente no Instituto Franco-Português numa exposição alusiva ao processo de construção do livro que aqui se apresenta Alexandra Carita