The serial killer e outros contos risíveis ou talvez não
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O livro The Serial Killer e outros contos risíveis ou talvez não reúne dezessete contos, com temas diversificados acerca da atual sociedade angolana. João Melo, detentor de uma escrita corrosiva, utiliza um narrador implacável com os hábitos da nova burguesia angolana. Sua indignação é tão intensa que apela com freqüência para expressões vulgares e agressivas ao tecer comentários que vão da ironia ao sarcasmo, em situações geralmente inusitadas do cotidiano da cidade de Luanda, capital de Angola. Contudo, suas histórias não se restringem a Luanda, expandem-se pelo interior do país e em outros continentes.
Deve-se salientar o sopro de renovação proporcionado pelos contos de The Serial Killer... no corpo da prosa literária angolana, muitas vezes preso a temáticas exaustivamente trabalhadas (e muito bem trabalhadas) por nomes consagrados como Luandino Vieira, Arnaldo Santos entre outros. João Melo fornece-nos um panorama caótico do país, de uma sociedade entregue aos perigosos caminhos das regras neoliberais do mundo globalizado, e as mazelas dessa situação na cidade de Luanda o narrador não teme em descrever:
Mais um dia em Luanda. O lixo deitado ontem à tarde pelos chamados pacatos cidadãos amanheceu incólume. As putas tiveram uma jornada infrutífera e já foram dormir há algumas horas, com vontade de se matarem ou de se casarem com um gringo. Os farristas voltam para casa, alguns deles por simples inércia, outros por autêntico milagre. Os ladrões, pelo menos os, digamos assim, artesanais, acabaram de proceder à avaliação do pecúlio arrecadado em mais uma noite de labuta e preparam-se para o merecido repouso. Os doutores e os ministros, ocupadíssimos como sempre, ainda dormem o sono dos justos, pelo menos por enquanto. As mulheres começam a ocupar os seus postos: as bancas dos mercados, as esquinas, as ruas, praças e avenidas da cidade, vendendo seus produtos, dos tradicionais aos globalizados. É por isso, com certeza, que alguns dizem que Luanda agora não passa de um grande bazar. O que resta da tradicional pequena burguesia luandense deve roer as unhas de raiva com isso, mas que tenho eu a ver com ela? (p. 61-62)
source: http://ricardoriso.blogspot.fr