Sermões — Vol. I
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«Ou mereceis os prémios, que vos faltam, e com que vos faltam, ou não: se os não mereceis, não tendes de que vos queixar; se os mereceis, muito menos. Ainda não sabíeis que não há virtude, nem merecimento, sem prémio? Assi como o vício é o castigo, assi a virtude é o prémio de si mesma. O maior prémio das acções heróicas é fazê-las. Com melhores palavras o disse Séneca, porque falava em melhor língua: Quid consequar (inquis) si hoc fortiter, si hoc grate fecero? Quod feceris: Se me perguntas que hás-de conseguir pelo que fizeste, ou forte, ou generosamente, respondo-te que tê- lo feito. Rerum honestarum pretium in ipsis est.
O prémio das acções honradas, elas o têm em si, e o levam logo consigo; nem tarda, nem espera requerimentos, nem depende de outrem: são satisfação de si mesmas. No dia em que as fizestes, vos satisfizestes. E se fora de vós mesmo esperáveis outro prémio, contentai-vos com o da opinião, e da honra. Se vossos serviços são mal premiados, baste-vos saber que são bem conhecidos. Este prémio mental assentado no juízo das gentes, ninguém vo-lo pode tirar, nem deminuir. Que importa que subais mal consultado dos ministros, se estais bem julgado da fama? Que importa que saísseis escusado do tribunal, se o tribunal fica acusado? Passai pela chancelaria este despacho, deixai-o por brasão a vossos decendentes, e sereis duas vezes glorioso. Só vos dou licença que vos arrependais de ter pretendido. Pouco fez, ou baxamente avalia suas acções quem cuida que lhas podiam pagar os homens.
Se servistes à pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma.»