Registros escravos: repertório das fontes oitocentistas pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional
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“Engana-se aquele que pensa que tudo que a memória faz é lembrar. Os arquivos estão repletos de lembranças, mas também devastados por silêncios e omissões: assim como é função lembrar, faz parte do ofício esquecer ou, simplesmente, deixar no silêncio.
Com efeito, se são muitos os trabalhos que vêm recuperando documentos oficiais – discursos de Estado, efemérides, iconografias de personagens famosos... –, até pouco tempo era bem diferente a situação a que estava relegados os documentos que tratam da escravidão no Brasil.
(...) O nosso desafio particular foi elaborar um guia das fontes e registros oitocentistas sobre escravos, existentes na Biblioteca Nacional, com vistas a animar, facilitar, ajudar e ampliar esse gênero de pesquisas. Nesse sentido, buscamos ler, selecionar e anotar referências com relação à escravidão brasileira, sobretudo na Corte do Rio de Janeiro, no século XIX, até o momento de sua desmontagem, em 1888. São pequenos detalhes, elementos esquecidos no meio de uma tela mais grandiosa, processos judiciais, referências em periódicos, registros em obras mais raras e documentos, ou anotações musicais. (...) Afinal, o Brasil carrega até hoje uma triste marca: a de ter sido a última nação do mundo ocidental a abolir a escravidão. (...)
O outro lado revela não só a resposta passiva e nem tão somente a heroica, mas a reação ‘possível’ diante da indigna situação. Aí estão as notícias de fugas, os crimes e as desordens, mas também os cálculos e as negociações. Na iconografia, escravos surgem em situação de trabalho, porém também dançando, conversando e praticando sua própria sociabilidade.
Apesar do radicalismo de sua situação, os escravos lutaram não só por sua ‘sobrevivência’, como também reinventaram sua própria existência. Sua humanidade estava garantida nos espaços possíveis da revolta frente à violência do cotidiano, assim como nos locais em que a vigilância afrouxava o olhar. Estamos falando da religiosidade africana e dos momentos de lazer, garantidos, muitas vezes, a partir da dissimulação e do cuidado.
São, assim, muitas as imagens que saltam dos documentos. Entre o registro do pitoresco, do mundo do trabalho, da violência, da religião, do lazer, das festas ou dos tantos atestados de seguro, venda e aluguel, não há porque optar por uma representação só. É esse universo polifônico e multifacetado que se impõe e que estará presente na documentação apresentada neste livro.”