O padre António Vieira e as mulheres. O mito barroco do universo feminino

«O ano vieirino tem estado a ser assinalado pela realização de várias iniciativas universitárias e exposições, bem como pela edição de alguns livros. De entre estes um dos que vem contribuir para abrilhantar o conhecimento do padre António Vieira nos quatrocentos anos do seu nascimento é aquele que aqui registamos e constitui um dos mais originais.
A análise das fontes permitiu que os autores desta obra apurassem a forma como o padre via a mulher, a qual se afigura de uma forma que nos causa estranheza, se não tivermos em conta uma noção tão básica como é a do relativismo, pois de outra forma não se poderia compreender a baixa concepção em que a mulher era tida por uma personalidade tão eminente da nossa cultura. Começa, aliás, por perspectivar uma denominada "percepção barroca da antropologia feminina", além de outras noções que passam por ideias extremas simbolizadas na oratória por extremos tirados de paradigmas bíblicos como são os da «Eva, a tentadora, e Maria, a redentora». É nesta base que se situa a mulher no processo discursivo de Vieira.
Este livro na sua incomodidade contribui de uma forma fluente para a caracterização do universo feminino na época seiscentista em que se inseria Vieira, na qual o papel da mulher era propositadamente muito limitado e controlado, devido ao receio dos "caminhos de perdição feminina", apesar da compreensão de que também havia formas de assegurar o prestígio feminino através da maternidade e do casamento. »

José Manuel Garcia - www.leitura.gulbenkian.pt)