O amor não nasce em muros
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Quando estava quase finalizando a redação deste livro, lembrei-me de uma fala de Ariano Suassuna em que ele afirmava, enfaticamente, que a língua portuguesa é aquilo que compunha a parte mais importante de seu material de trabalho. Divaguei sobre isso... Até que tal provocação me gerasse alguma forma mais ampla de responsabilidade sobre o exato instante em que arremesso no papel, na tela, no corpo, no desejo, o embrião de um texto. Ali, entendi o mestre e sua tese brechtniana; tratava-se de um apelo em defesa do óbvio que, justamente, por não estar sendo tão bem exercido por tantos que escrevem ou falam, precisava ser, pois, melhor refletido: ora, se palavra não fosse importante não era para ser comunicada – o exercício é o cuidado para não ser leviano com o uso da mesma; cantou Renato Russo em “Índios” o verso “fala demais por não ter nada a dizer”. Por sua vez, em “O amor não nasce em muros” também me lembrei de um ótimo bate-papo com a crítica de dança Profa. Dra. Helena Katz em início de minha carreira – “é necessário você se perguntar se cada parte que está em sua coreografia é realmente necessária. Se você retira-la e não sentir falta alguma da mesma é porque ela é dispensável; do contrário, é muito importante que ela permaneça lá. Você precisa se perguntar Paulo, pois tem textos que deveriam ficar no diário e outros publicados em livro”. Diante desses dois sábios, a grande questão e o desafio pela frente que eles me confiaram é decidir quais textos, quais gestos, quais movimentos devem compor uma obra; e, essa incerteza para não deixar de trazer Dostoiévski (e a maldição das gaiolas) é fazer arte. Que o leitor, então decida quantos exageros cometi na composição de meu crime mais bárbaro, afinal fazer poesia é uma forma homeopática de suicídio numa sociedade que ostenta a covardia e tenta nos furtar o amor. Este livro é um desencanto do mundo, escrever foi mais uma tentativa de matar essa desalegria do abraço negado.