Mentiras
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Os deuses da literatura advertem que não é recomendável escrever romances maiores do que a vida antes dos 30 anos. E quando alguém propõe um diálogo, em todas as acepções da palavra, com Philip Roth, para muitos o maior escritor vivo em língua inglesa? E ainda mais em um romance de estreia? Pois é exatamente isso que Felipe Franco Munhoz nos entrega em ‘Mentiras’. Seu ambicioso objetivo é tecer, com a ajuda das mãos de Roth, o livro-travesseiro da sua vida, um travesseiro tecido com a coloração perfeita do fio. Seria um tanto reducionista afirmar que Philip Roth é apenas o alter ego ou o duplo de Felipe. E tampouco ele e sua obra é somente aquele/aquilo com quem se ‘conversa’ nas tardes de um café imaginário. Ao desaparecer um dentro do outro, eles são, a um só tempo, autor, personagem e leitor na construção deste romance de admirável fluidez formal, que nos remete não somente ao modernismo anglo-saxão, mas também aos exercícios do nouveau roman e à dramaturgia de Pirandello. Por sua vez, as personagens-títeres Thaís e Marina representam, em seus contrastes, a dicotomia daquilo que se costumava chamar de tradição judaico-cristã, o que certamente é um espelhamento às avessas de um dos temas recorrentes da obra de Roth, com seus judeus às voltas com shiksas. Mas tanto elas, quanto os Felipes ou nós, os leitores, todos somos lembrados da experiência da alteridade por excelência que é a forma romanesca. ‘Mentiras’ é um instigante e erudito work in progress, conduzido com irresistível malícia, a ‘palavra-pirâmide’ que, não por acaso, é a preferida do autor. Em suma: um misto delicioso de diversão e arte.