Letramento, gênero e raça na (re)construção de identidades de mulheres negras

O debate apresentado neste livro sobre letramento fora do contexto escolar, gênero e raça, sem dúvida, agrega contribuição à área das linguagens, em especial por seu ineditismo. Contudo, o maior mérito desta publicação é a sua inestimável capacidade de provocar, questionar. É um livro que nos incomoda, mais que isso, nos acorda, por meio do emaranhado de reflexões propiciadas. E isso se deve às duas mulheres que o tornam tão particular: a participante da pesquisa, Nina, e a autora. A primeira, porque sua voz faz reverberar. É por meio de sua voz que Nina dá voz às suas.  E foi sua voz que permitiu a geração dos dados desta pesquisa e, até mesmo, a ressignificação de aspectos da vida da pesquisadora. A autora, por sua vez, sem abdicar do rigor científico, desconstruiu o tom formal e impessoal recorrente na esfera acadêmica. Sua linguagem, leve e sensível, torna a leitura agradável, fazendo-nos esquecer que o que temos ali é o relato de uma pesquisa de pós-graduação stricto sensu. O didatismo e a sensibilidade com que a autora apresenta seus dados permitem que Nina – e por extensão, todas as mulheres negras – nos salte aos olhos, despertando nossa curiosidade, nosso legítimo interesse, nosso respeito e inclusive nosso afeto.