Instantes líricos de revelação. A narrativa poética em Clarice Lispector
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A Modernidade foi palco da presença do "eu" do narrador realizada inicialmente pelo Romantismo e pelo Simbolismo. Ao contrário do realismo dos narradores do século XIX, a ficção moderna é caracterizada pelo emprego cada vez mais freqüente do foco narrativo em primeira pessoa. A narrativa A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector enquadra-se perfeitamente nesta perspectiva. A crítica tem apontado esta obra como a narrativa que sintetiza os procedimentos enunciativos modernos e o trabalho artístico com a palavra. O procedimento de Clarice Lispector nesta obra ressalta a necessidade de se recorrer ao conceito de narrativa poética, uma vez que a autora funde a técnica da prosa e da poesia para relatar, em primeira pessoa, a viagem mítica da personagem G.H. pelo espaço labiríntico de seu apartamento. O poético apresenta-se em todos os níveis, desde a linguagem, marcada por um traço sumamente polissêmico, até as referências de tempo e espaço, na medida em que ganham a multiplicidade de sentidos. A narrativa gravita em torno dos passos que a personagem G.H. dá em seu apartamento, metáfora da peregrinação de ordem interior, a partir da decisão rotineira de arrumá-lo. No quarto da empregada, último cômodo de sua casa e primeiro a ser "arrumado", a personagem defronta-se com uma barata, ser que estabelece o ponto de partida para uma longa introspecção. Para demonstrar os momentos líricos de revelação tomados pela protagonista em seu apartamento, Clarice Lispector opta pela linguagem e estrutura poéticas, favorecendo, desta maneira, a análise e descrição da obra baseada na teoria da narrativa poética, postulada por Jean-Yves Tadié e Ralph Freedman.