Cemitério de Pianos
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«Romance da memória não cronológica, que chega até nós em longos ou pequenos segmentos do vivido, saga afectuosa de uma família de artesãos em que três gerações durante muito tempo estão presentes, Cemitério de Pianos é um livro de invulgar densidade, uma história contada com poesia e verismo ao mesmo tempo, sem um grão de pieguice, e que mexe muito nos nossos sentimentos. Para mais, ensina-nos: toda uma sabedoria da vida de arrabalde, no tempo das tabernas e do trabalho feito com amor. A esse propósito é inesquecível a micronarrativa do pianista e vagarista italiano que leva tio e sobrinho a abrirem a porta do cemitério de pianos, a esmerarem-se em todos os pormenores do concerto; e o mais jovem a encontrar, na casa onde o italiano se alojou, a mágica menina que será o seu grande amor. A voz narrativa vai passando de um a outro membro da família, desvendando-nos orgulhos, violências, um adultério, o choque frontal de um pai com o filho, o sofrimento de todos pela morte do patriarca daquele pequeno núcleo. A toada repetitiva, a abundância de conotações, aquela música da frase que nos atrai em todos os livros do José Luís Peixoto espraiam-se por esta obra volumosa, muito rica de presságios, de sensações, de mágoas caladas de diálogos de uma perfeita naturalidade. Considerando o fluxo, por vezes interrompido, do discurso narrativo, em que certas cenas parecem ficar suspensas, descobrimos que elas se justificam ao ressurgirem mais adiante, por vezes com inesperados sentidos. Artifícfio?, habilidade? Decerto, tudo isso faz parte do romance, mas este compensa o leitor de tal desafio com a claridade, aliás recorrente, do seu desenvolvimento, que vem de dentro das personagens, simples, fortes, apaixonadas, mesmo quando a linguagem em que se exprimem é tosca, rude, mas capaz de encontrar a palavra passe. Afecto e corpo, corpo que se segura no amor, brilham nas páginas mais ternas - ternas e líricas de Cemitério de Pianos. É conhecido o feito dramático de Francisco Lázaro, que em Estocolmo esteve à beira de vencer uma maratona e a perder por haver ingenuamente untado o corpo com gorduras, que lhe afectaram a respiração a meio da corrida, vindo a morrer devifo ao esforço que fez. Francisco Lázaro é um dos membros da família e até um dos narradores. A sua persistência, a sua ânsia de afirmação como atleta encontram certamente eco nos leitores jovens que não podem praticar desporto caros e correm por essas ruas de manhã cedo ou ao entardecer. Aliás, creio bem que Cemitério de Pianos pode vir a ser um livro de culto de uma certa juventude trabalhadora, à semelhança dos que há muitos anos sucedeu com os livros tão sensíveis de Vasco Pratolini. Até aqui José Luís Peixoto ficou sempre de certo modo preso à genialidade desconcertante de Nenhum Olhar mas este seu novo romance, escolhendo outros caminhos, ultrapassou pelo menos tudo o que de então para cá escreveu e cuja qualidade não sofre dúvidas.
Fica uma grande interrogação: o que virá depois deste livro tão comovedor.»
Urbano Tavares Rodrigues (leitur@gulbenkian)
«Ternura, morte e renovação - eis as notas que pautam o mais recente livro de José Luís Peixoto, um romance cheio de música e ritmos peculiares sentidos na pontuação e construção das frases; palavras que respiram, correm e desfalecem ao compasso da vivência das personagens, numa melodia que ora comove e revolta, ora nos faz sorrir e angustia (...) Não é um romance fatalista. É o ciclo redentor da vida escrito sem pudores. Muito bem escrito.» Ana Morgado