BD – A Louca do Sacré-Cœur
15,00€
1 en stock
Paulo Pereira
A Louca do Sacré-Coeur é um livro com argumento de Alejandro Jodorowsky e ilustrações de Moebius, pseudónimo usado por Jean Giraud. Dividido em três partes, uma vez que o álbum foi publicado originalmente em três volumes, entre 1992 e 1998, A Louca do Sacré-Coeur foi lançado em Portugal em 2015, incluído na primeira série da Colecção Novela Gráfica da Levoir em parceria com o jornal Público. Jodorowski e Moebius, que já tinham trabalhado em conjunto na série Incal – uma das obras mais alucinantes de sempre -, juntaram-se de novo na década de 1990 para construir uma das histórias mais revolucionárias das suas carreiras. Constitui uma obra que faz uma critica à religião de uma forma satírica e burlesca.
A ironia está presente em grande parte da obra de Jodorowsky e este caso não foge à regra. Por exemplo, o homem que Elisabeth (mulher que é uma das personagens principais e descrita como “A louca de Sacré-Coeur”) viu numa visão e é tido como santo é um ex-traficante de heroína. Alain Mangel, um professor de filosofia da universidade Sorbonne, é seduzido por uma jovem aluna e é levado para uma aventura alucinante… Ele parece sofrer de uma qualquer crise de meia-idade, que arruína o seu casamento e o arrasta para um devaneio de características místicas, sexuais e com o recurso a drogas. O livro é um gozo a essa mesma crise e, se na nossa realidade os homens tentam a todo o custo regressar a uma juventude de outrora comprando um carro desportivo ou usando roupas de adolescentes, nesta obra Mangel faz sexo com uma jovem mais nova vinte ou trinta anos e parte numa aventura de índole mística.
É uma sátira à religião e espiritualidade e a ousadia e criatividade com que os autores criam as personagens e a história é de realçar. Destaca-se ainda o próprio ritmo e desenlace da ação, os quais constituem uma mais-valia, assim como as várias situações humorísticas. Em nenhum momento o leitor vai-se sentir aborrecido ou farto do livro. Devido às situações sexuais e uso de drogas, a obra tem direito a “bolinha vermelha” no canto direito, como a própria capa indicia.
Há ainda uma crítica explicita à televisão quando Myra, a ex-mulher do personagem principal, surge numa entrevista, pondo em causa a promiscuidade entre o dinheiro das multinacionais e os canais de televisão. A obra tem muitas referências a filósofos como Karl Marx, Martin Heidegger ou Immanuel Kant.
Estupefacientes e brincadeiras sexuais transformam-se numa reflexão sobre o indivíduo e a natureza humana numa história que coloca em causa a própria religião católica. Esta obra envolve padres, xamãs, guerrilheiros da América Latina e traficantes, entre outros, tudo envolto num clima de pura ironia contagiante. Com o objetivo de criar um ser que guie a humanidade e seja divino, Mangel faz sexo com Elisabeth e este é o começo de uma viagem atribulada aos meandros do tráfico de droga e da religião que vai colocar em causa as suas considerações religiosas.
Quanto à arte de Moebius, revela nos traços fortes e cores densas a identidade inconfundível do melhor estilo franco-belga.