A partir de uma vasta pesquisa em fontes históricas diversas, desmitificando imaginários equivocados que se perpetuaram no tempo, Rafael Freitas da Silva reconstitui a vida de Arariboia em uma biografia que apresenta a trajetória deste que é o principal líder indígena do século XVI.
Chefe dos temiminós, que ocupavam o litoral brasileiro, de início a região da baía de Guanabara e depois o Espírito Santo, Arariboia foi figura decisiva nas batalhas entre portugueses e franceses em meados dos anos 1500, em um contexto de conflitos que definiria a fundação da cidade do Rio de Janeiro e o próprio destino da colonização no Brasil.
Aliado das forças portuguesas, que combatiam tropas francesas apoiadas pelos indígenas tamoios, inimigos ancestrais de seu povo, Arariboia foi um exímio guerreiro e estrategista, figura central para a vitória dos portugueses na região. Também foi catequizado e recebeu o nome Martim Afonso de Sousa. Mas não se tornou, por isso, uma marionete de Portugal. Pelo contrário. Cobrou pela sua participação nas lutas, ganhando terras e poder, e ajudando, desse modo, outros grupos indígenas, protegidos por ele contra o extermínio e a escravização.
De traidor a herói, do mito ao homem, o autor reconstrói de maneira lúcida e inédita a vida de Arariboia, tendo como pano de fundo um dos períodos mais relevantes e emocionantes de nossa história. A edição conta ainda com imagens e mapas da época.
“Não se engane, leitor, ao achar que a vida de Arariboia não tem esconderijos, onde podemos ver o ser humano além do mito e da aura de perfeição que os seus cronistas quiseram pintar. Do indígena cristão exemplar e multiplicador da obediência que tanto almejavam os padres, é possível constatar o cacique contestador e de costumes amorosos arraigados, possuidor de conhecimento dos santos e de Jesus em semelhante patamar à consciência da viagem espiritual tupi à 'Terra sem Mal' após a morte. Arariboia gostava da roupa completa que o rei d. Sebastião lhe mandou entregar de presente, mas não dispensava seu impactante cocar de penas de arara e papagaio. Ele era uma verdadeira cobra. Arariboia, a cobra arara.”