Angola : o lado obscuro da guerra
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Pusemo-nos a caminho. Entrámos na mata evitando sempre toda e qualquer estrada. Aragem não se sentia nenhuma, nem uma folha fazia o seu som habitual e misterioso. Logo nas primeiras horas da viagem, verificámos que era mais difícil e mais arriscado do que calculáramos, pois os militares oposicionistas encontravam-se por todo o lado, não só nas estradas, como espalhados pela mata, à procura de fugitivos. Por esse motivo, éramos obrigados a passar muito mais tempo escondidos do que a caminhar.Seguíamos por uma rede de carreiros traçados pelos pés e espalhados por aquela mata inabitada, no meio de capim alto, abrasados de calor, através de uma solidão, sem uma pessoa, sem uma cubata. Há algum tempo que a população tinha fugido daquelas paragens. Atravessámos alguns aglomerados de palhotas abandonadas que deixavam um aspeto desolador na ruína das paredes de capim seco. De vez em quando deparavamo-nos com um morto que tinha ficado abandonado no capim alto, à beira do caminho.
(...)
Aproximámo-nos… seus corpos com marcas visíveis de catanadas e em grande número queimados do fogo, que dizimou suas cubatas, ali jaziam naquele sítio onde se recolheram, possivelmente rastejando, para morrer. Junto a mim, mesmo ao lado do meu braço direito, encontrava-se um homem, que aparentava ser bastante jovem. Seu corpo apoiado a uma árvore; seus olhos encovados, fixaram-se em mim, vazios, como se fossem um clarão que se extinguia lentamente e se ia apagando. Estendi-lhe um pedaço de pão que trazia comigo. Vagarosamente, os seus dedos fecharam-se e agarraram-no. E este foi o último movimento que lhe vi. Seu olhar também se apagou.