Ao comparar obras como Menino de Engenho e Pedra Bonita com a vida do autor José Lins do Rego, o leitor vai encontrar muitos aspectos semelhantes. Assim como Carlinhos, protagonista do primeiro, ele foi criado no engenho da sua família. E assim como Bentinho, figura central do segundo, também chegou a enfrentar um pouco do movimento do Cangaço. Suas obras ficaram conhecidas não apenas por serem parcialmente baseadas na sua história pessoal, mas também pela sua forma pertinente de caracterizar o nordeste do começo do século passado. Em Água-mãe, no entanto, ele passa a usar um pouco mais do conhecimento que adquiriu quando se mudou para o Rio de Janeiro, já na fase adulta da sua vida.
Ao fugir da sua temática habitual do nordeste, José Lins do Rego acompanha a história de três famílias que moram em Cabo Frio, no Rio de Janeiro: a família Cabo Candinho, de pescadores pobres; a família da dona Mocinha, de classe média; e, por fim, a família Mafra, que são ricos e compram a Casa Azul, ambientação que permeia sempre a trama imersiva do autor. De classes sociais diferentes, a única coisa que as pessoas presentes na narrativa tem em comum é o fato de que elas moram nas margens do rio Araruama, e que suas vidas são regadas por tragédias.
Abordando os costumes de cada uma das famílias, Água-mãe tem um contexto social importante e essencial para entender os personagens, como nas outras obras de Zé Lins. Dessa vez, ele explora assuntos como desigualdade social e os valores conservadores da sociedade, ao mesmo traçando um paralelo entre essas pessoas e como suas vidas estão interligadas pelos sentimentos humanos mais viscerais e devastadores. O interior do Rio de Janeiro como pano de fundo é extremamente importante para a narrativa em si, claro, mas são essas figuras que se destacam, principalmente as mães da história.