A irmandade dos romeiros
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Na ilha de São Miguel, nos Açores, a tradição das Romarias Quaresmais data de tempos remotos. Há cerca de 500 anos, às primeiras horas do dia 22 de Junho de 1522, um violento sismo arrasou por completo a então capital da ilha, Vila Franca do Campo, deixando um rasto de destruição e morte (estima-se que tenham perecido mais de cinco mil pessoas). Um dos primeiros trabalhos terá sido a construção de uma pequena ermida consagrada a Nossa Senhora do Rosário, aonde os populares se dirigiam vindos dos mais diversos lugares da ilha, implorando à Virgem pelas suas vidas.
Na sua crónica Saudades da Terra, escrita entre 1586 e 1590 (um ano antes de falecer), Gaspar Fructuoso situa o início das Romarias após os “castigos” que afligiram a população da ilha de São Miguel no século XVI. Curiosamente, pouco antes do início do seu povoamento, assinalam-se duas erupções (1439 e 1444) na ilha do Arcanjo, cujo posicionamento rigoroso ainda não se encontra esclarecido.
No tempo em que Gaspar Fructuoso escrevia a sua preciosa crónica, já as Romarias Quaresmais tinham entrado no domínio da vida religiosa micaelense, perdurando nos séculos seguintes, sendo também conhecidas por “visitas às Casas de Nossa Senhora”.
As Romarias de São Miguel constituem a peregrinação mais completa que se efectua, hoje, em Portugal. Trata-se de uma manifestação genuína de fé que emana do povo e é absolutamente única no mundo, por se tratar de um périplo em torno da ilha, que começa e termina na mesma igreja. Normalmente, uma peregrinação pode ter vários pontos de partida – tantos quantas as origens dos peregrinos – e um só destino, um local de oração ou de celebração.