A Idade da lua
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Noutros tempos, as mulheres e as pessoas que andavam com as mulheres diziam em silêncio muitos segredos. Conversavam sem palavras, apenas com os discretos olhares e com gestos. Os silêncios das mulheres e das pessoas que caminhavam com as mulheres eram como gritos, na maioria das vezes ainda são. Tem uma ambiência áspera, sente-se no ar e de olhos fechados quando nos dispomos a sentir. Elas entreolhavam-se e afastavam sempre umas às outras, na presença de certos homens. Na presença de certos homens, guardavam as crianças e teciam alianças de cuidado e zelo pelos olhares, o silêncio agia como uma água densa que lhes tapava a respiração, um alerta de perigo. Na atmosfera da ameaça, algumas disfarçavam e abaixavam as cabeças, outras desenhavam horizontes dois dedos acima para maquiar o semblante de asco, de dor, de nojo e torpor.
O mundo das mulheres já foi feito de silêncio, muitas vezes, ainda é. Silêncio que é cheio de dizeres. Percebia-se a qualidade do alerta quando levantavam-se as antenas dos instintos.
Tudo esbarra em tudo e os sentidos despertam outros sentidos. O medo tem um cheiro. Aliás, todos os sentimentos apresentam seus odores, seus aromas, suas cores e seus descoloridos, seus gostos e desgostos.