A cidade ilhada (ed. bolso)
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'A cidade ilhada', relances da experiência vivida recolhidos em tramas brevíssimas, de dicção enxuta, em que tudo ganha nitidez máxima - e máximo poder de iluminação. As sementes desses contos não poderiam ser mais diversas - a primeira visita a um bordel em 'Varandas da Eva'; uma passagem de Euclides da Cunha em 'Uma carta de Bancroft'; a vida de exilados em 'Bárbara no inverno' ou 'Encontros na península'; o amor platônico por uma inglesinha em 'Uma estrangeira da nossa rua'. Com mão discreta e madura, Hatoum trabalha esses fragmentos da memória até que adquiram, sem que se adivinhe como ou quando, outro caráter - frutos do acaso e da biografia pessoal, eles afinal se mostram como imagens exemplares do curso de nossos desejos e fracassos. Uns e outros, aliás, respondem pela rede subterrânea que amarra entre si os contos de 'A cidade ilhada'. Se o desejo - sob a forma do amor, da literatura ou da viagem - leva os personagens a dilatar o raio de sua ação e a transpor as barreiras da infância e da moral, da classe e da província, estes mesmos elementos não se dão por vencidos e apenas aguardam a hora certa para se abater sobre os heróis como uma fatalidade erótica ou histórica que os traz de volta a um centro imóvel - 'para onde vou, Manaus me persegue'. Esferas perfeitas ou espirais vertiginosas? Breves como são, as histórias de Milton Hatoum guardam em si a mesma potência expansiva e explosiva que o leitor já conhecia desde Dois irmãos e Cinzas do Norte.