O arquipélago da insónia
25,00€
3 en stock
Começamos por uma casa, pelo sentimento uma força em exercício, um poder que vem de há muito tempo, quando essa casa era igual mas era uma herdade, um latifúndio, quando nada faltava – a família, as empregadas na cozinha, o feitor, os campos, a vila ao fundo, e a voz do avô a comandar o mundo... Agora há fotografias no Alentejo em vez de pessoas, e há objectos, cientes que também acabarão sem ninguém, há memórias de quem dorme, ou morreu, mortos que não sabem se a vida foi vida, há os irmãos, um é autista, e a imagem da mãe muito nítida, sempre de costas « (algumas vez a vi sem ser de costas para mim ?) ».
« Vozes chegam-nos, soltas, dos pélagos da memória, acronológicas, farrapos de vida, de sonho, de pesadelo, e assim, na versão de uma criança, a herdade que o avô comprou, o monte que construiu, a vila, com os seus habitantes, as suas luzes nocturnas.
Tirânico, violento, inquebrantável, o avô, que sobrevive à conquista das terras pelo rurais, após a revolução; o pai, o cavalo, o mulo velho, o borrego afogado no poço e o outro neto. E a avó, a mãe, as criadas, incidentes anódinos do ramerrame familiar, tudo a esmo. E o sofrimento de uns, presenciado e incompreendido, o rodar do tempo, a mistura dos eventos.
Sá a um terço, ou talvez a meio, do Arquipélago da Insónia, começamos a compreender o romance.
É claro que desde o início fruímos a beleza da escrita de António Lobo Antunes que, desprendendo-se da lógica narrativa, aqui ganha tonalidades poéticas.
A vinda para Lisboa da criança que é o sujeito principal da enunciação não fecha mesmo assim o discurso caótico.
Uma nova etapa da obra de Lobo Antunes a caminho das iluminações do silêncio. »
Urbano Tavares Rodrigues (leitur@gulbenkian)