Um roteiro dos passos portuguêses em Paris Livro. A obra  « Les Portugaus à Paris » da autoria de Agnès Pellerin, que vai ser lançada no « stand » português do Salao do Livro de Paris a 13 de Março, é um registo de marcas lusitanas na capital francesa, mas funciona como um guia, pois mostra os vestigios bairro a bairro em vez de os agrupar por critério ou em cronologia.

Factos, lendas e figuras Fernando Madail «Portugal! Portugal!» Quando os parisienses do século XVIII ouviam este grito na Pont-Neuf ja sabem que as vendedoras estavam a apregoar laranjas doces, esse fruto que os portugueses trouxeram da China – e que, ainda hoje, em dialecto arabe, greco, turco e persa se chama Portugal. Antes disso, ja o embaixador em Lisboa Jean Nicot tinha enviado as folhas do tabaco para Paris e, sem o saber, iria imortalizar o seu nome na palavra (agora, mal-amada) nicotina.     No século seguinte – quando os verdadeiros vendedores lusitanos  arengavam porcelanas chinesas e mobilias de bambu, vinho da Madeira e sal de Setubal, marfim e cacau, limoes  e rubis -, Uma portugaise  ja era uma carta de amor, pois  a ediçao  do livro Lettres Portugaises, de Soror Mariana Alcoforado, era entao um êxito em França. E por falar em cartas, no século XVI, a correspondência entre Lisboa e Paris passava pelo estabelecimento  de Jean Poquelin, o pai do famoso dramaturgo Molière.     O livro Les Portugais à Paris – au fil des siècles & des arrondissementsi, de Agnès pellerin (com a colaboraçao de Anne Lima e Xavier de Castro), editado pela Chandeigne e que ira ser lançado no dia 13 de março no Salao do Livro de Paris, esta cheio de curiosidades deste género. Agnès conhece bem o tema, ou nao tivesse ja escrito en 2004, outra obra sobre Le fado.     Les Portugais à Paris inclui quase tudo, desde a presença de Joao Peculiar, o arcebispo de Braga que tera coroado D. Afonso Henriques, ao monumento ao 25 de abril, passando por figuras da Historia da Medecina, Ribeiro sanches ou Elias Montalto (médico de Maria de Medicis e unico judeu autorizado a praticar o judaismo na corte) e por associaçoes come a Academia do Bacalhau ou o Sporting Club de Paris, sem esquecer cartoonistas como Leal da Câmara (a quem Trotsky encomendou uma caricatura anti-czarista) ou Vasco (que escreveu  Montparnasse Mon Village), o pêndulo de Joao jacinto de Magalhaes e o astronomo Soares de Barros escritores desde o Padre Antonio Vieira a Luiza Neto Jorge.     Lê-se sobre as ruas de Lisboa e do Tejo, a estatua de Vasco da Gama e o busto de Camoes (Os Lusiadas tiveram dez traduçoes integrais no século XIX), a igreja da Nossa Senhora de Fatima e o cemitério dos judeus portugueses, o bidonville  de Champigny (onde ha agora um memorial  à imigraçao de Rui Chafes) e a case de Portugal da Gulbenkian, o pregador Diogo Soares (cujos sermoes foram escuados por Richelieu) e o fundador da Compahnia de Jesus Simao Rodrigues (esse «inquieto e turbulento» companheiro de Inacio de Loyola), a Radio Alfa e a Gemini Film de Paulo branco, Almeida Garrett a ver dioramas («divertimento da moda, percursor do cinema») e Antero de Quental a trabalhar como tipografo na sua experiência proletaria, os fados de Amalia nas juke-box e Pauleta a marcar golos no Parque dos Principes.     Bairro a bairro (ou arrondissement a arrondissement), porque o criterio nao foi nem conologico nem tematico, ha referências às exposiçoes universais de Paris onde Eiffel expôs a mequeta da ponte D. Maria Pia que iria construir no Porto (a de 1878) e onde Bordale Pinheiro  vendeu todas as peças de cerâmica da fabrica agora em risco de fechar (a de 1889), aos cavaleiros portugueses que participaram na Guerra dos Cem Anos e aos 30 mil soldados que foram para as trincheiras da I Grande Guerra, ao quadro de Sonia Delaunay Jouets Portugais e ao de Braque Le Portugais, à livraria Lusex aberta por Mario Soares e à casa clandestina de Alvaro Cunhal, ao som ambienta da gare de Austerlitz que José Mario Branco introduziu em Mudam-se osTtempos, Mudam-se as Vontades e aos que viam en Linda de Suza uma potencial concorrente de Dalida.     Olivro é um caleidoscopio onde tudo se pode misturar e encontrar. D. Miguel a disparar do quarto do hotel para matar as ovelhas que via pela janela; o Cavaleiro de Sousa a preparar a ediçao monumental de Os Lusiadas com gravuras que queria assinadas por Fragonard; a russa Thérèse Lachmann a casar com o falso titulo de Madame de Paiva (além de ter construido um palacio luxuoso frequentado por figuras como Rodin e Zola, acabaria por se tornar princesa alema); o longo exilio do Prior do Crato e as dezenas de figuras que se fizeram passar por D. Sebastiao, incluindo um certo Manuel Godinho, que Merimée transforma num impostor no livro Les Faux Démétrius; o cenario onde Manoel de Oliveira rodou A Carta que era o hotel onde viveu Calouste Gulbenkian antes de se mudar para Lisboa; a garrafa que, no Museu Grévin, esta na mesa do Procope junto de Verlaine e que, em vez de absinto, é de… Licor Beirao.     Nada parece faltar, os estrangeirados como o humanista Diogo de Teive ou o botânico Avelar Brotero; os exilados de todas as épocas (seja a Liga de Paris, que reuniu os primeiros oposicionistas à ultima ditatura, como Alfonso Costa e Bernardino Machado, Antonio Sérgio e Jaime Cortesao, ou os anti-salazaristas mais novos, como Emidio Guerreiro ou Palma Inacio); os diplomatas e os 70 a 80 mil desertores da guerra colonial (alguns deles, no Maio de 68, irao levar para a Sorbonne a maior efigir de Mao Tsé-Tung); Diogo hde Gouveia como professor de Monteigne e Aquilino Ribeiro como alune de Émile Durkeim; o compositor Bomtempo a conceber a primeira sinfonia portuguesa e Luis Cilia a criar  O Avante  (que se tornaria o hino do PCP); o facto do pintor Pissarro ser descendente de uma familia de judeus portugueses e a estrela teatral Maria de Medeiros, sem esquecer os irmaos Pereira, concessionarios  da primeira linha de cominho de ferro Paris-Saint-Germain e impulsionadores do transporte maritimo entre a França e os Estados Unidos.     Nas letras, de Filinto Elisio a Mario de Sa-Carneiro («o mais parisiense dos escritores portugueses») ha referências obvias a Eça – até o imaginario numero 2002 dos Champs Élysées, onde ficava a casa  de jacinto em As cidades e as Serras – ou a Antonio Nobre – cuja primeira versao de So, numa tiragem de 200 exemplares, foi feita por Léon Vanier, «o editor dos simbolistas e decadentistas franceses».     Na musica, da violoncelista Guilhermina Suggia ao compositor Emmanuel Nunes (discipulo estético de Boulez e Stockhausen), passando por Francisco lacerda (colega no conservatorio de Ravel, onde também conheceu Satie, embora nao lhes apreciasse as obras) e Lopes Graça, Sérgio Godinho e Marie Myriam (que começou a cantar no restaurante Ribate-Jo  e ganhou  o Festival da Eurovisao com L’oiseau et l’Enfant), ha sobretudo  as disputas entre  marates e todistes, que é como quem diz,  entro os que preferiam a c