O vale da paixão
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Como na noite em que Walter Dias visitou a filha, de novo os seus passos se detêm no patamar, descalça-se rente à parede com a agilidade duma sombra, prepara-se para subir a escada, e eu não posso dissuadi-lo nem detê-lo, pela simples razão de que desejo que atinja rapidamente o último degrau, abra a porta sem bater e entre pelo limiar apertado, sem dizer uma palavra. E foi assim que aconteceu. Ainda o tempo de reconstruir esses gestos não tinha decorrido, e já ele se encontrava a meio do soalho segurando os sapatos com uma das mãos. Chovia nessa noite distante de Inverno sobre a planície de areia,e o ruído da água nas telhas protegia-nos dos outros e do mundo como uma cortina cerrada que nenhuma força humana poderia rasgar. De outro modo, Walter não teria subido nem teria entrado no interior do quarto.
«O que me prendeu de imediato na leitura deste livro é a espantosa força do seu arranque. Poucos livros têm a capacidade de criar uma situação, uma imagem intensa, um fulgor transbordante, e depois instalarem-se na própria energia que daí resulta, rodarem interminavelmente sobre ela, e desfiarem a rede de implicações possíveis, o eixo das declinações possíveis de um momento, de um instante, de um gesto, de um olhar, de um rasgão no real.» Eduardo Prado Coelho